Estórias de João Grilo

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Tuesday, September 12, 2006

João Grilo e o Mendigo

Certa vez chegou na corte um mendigo esfarrapado, com uma mochila nas costas, dois guardas de cada lado, seu rosto cheio de mágoas, os olhos vertendo água, fazia pena o coitado. Junto dele estava um duque que veio denunciar dizendo que o mendigo na prisão ia morar por não pagar a despesa que fizera por afoiteza sem ninguém lhe convidar.
João Grilo disse ao mendigo:
_ e como é, pobretão, que se faz uma despesa sem ter no bolso um tostão? Me conte todo passado depois de ter-lhe escutado, lhe darei razão ou não.
Disse o mendigo:
_ sou pobre e fui pedir uma esmola na casa do senhor duque, levei a milha sacola quando cheguei na cozinha vi cozinhando galinha, numa grande caçarola. Como a comida cheirava, eu tive apetite nela, tirei um taco de pão e marchei pro lado dela e sem pensar na desgraça botei o pão na fumaça que saia da panela. O cozinheiro zangou-se, chamou logo o seu senhor dizendo que eu roubava da comida o seu sabor só por eu ter colocado um taco de pão mirrado aproveitando o vapor. Por isso fui obrigado a pagar essa quantia como não tive dinheiro o duque por tirania mandou trazer-me escoltado pra depois de ser julgado ser posto na cadeia.
João Grilo disse:
_ está bem não precisa mais falar,
Então perguntou ao duque:
_ quanto o homem vai pagar?
O duque respondeu:
_ 5 coroas de prata ou paga ou vai pra chibata, não lhe devo perdoar.
João grilo tirou do bolso a importância cobrada, na mochila do mendigo deixou-a depositada e disse para o mendigo:
_ balance a mochila, amigo pro duque ouvir a zoada.
O mendigo sem demora fez como o Grilo mandou, pegou sua mochilinha com a prata e balançou, sem compreender o truque, bem no ouvindo do duque, o dinheiro tilintou.
Disse o duque enfurecido:
_ mas não recebi o meu.
João Grilo diz:
_ sim senhor e isto foi o que valeu, deixe de ser patoteiro, o tinido do dinheiro o senhor já recebeu. Você diz que o mendigo por ter provado o vapor foi mesmo que ter comido seu manjar e seu sabor, pois também é verdadeiro que o tinir do dinheiro representa seu valor.
Virou-se para o mendigo e disse estais perdoado, leva o dinheiro que te dei, vai pra casa descansado, o duque olhou pro Grilo, depois de dar um estrilo, saiu por ali danado.

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Baseado da Literatura de Cordel
"As Proêzas de João Grilo"
autor: João Ferreira de Lima
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Garapa do Engenho Catolé

Um dia a mãe de João Grilo foi buscar água a tardinha e deixou João Grilo em casa e quando deu por fé lá vinha um padre pedindo água. Nesta ocasião não tinha, e aconteceu o seguinte diálogo:
_ Só tem garapa, falou João.
E o padre respondeu:
_ de que é?
_ do Engenho Catolé,
_ pois eu quero.
João levou numa coité.
O padre bebeu e disse que garapa boa e João Grilo disse:
_ quer mais?
E o padre perguntou:
_ e a patroa não briga com você?
_ tem uma canoa.
João trouxe outra coité naquele mesmo momento disse ao padre:
_ beba mais não precisa acanhamento na garapa tinha um rato que estava podre e fedorento.
O padre disse:
_ Tenha mais educação e porque não me disseste? Oh! Natureza de cão; e pegou a dita coité arrebentou-a no chão.
Falou João Grilo:
_ danou-se , misericórdia, São Bento com isto mamãe se dana, me pague mil e quinhentos, essa coité seu vigário é de mamãe mijar dentro.
O padre deu uma pôpa disse para o sacristão este menino é o diabo em figura de cristão, meteu o dedo na guela quase vomita o pulmão.
João Grilo ficou sorrindo pela cilada que fez dizendo:
_ eu vou confessar-me no dia 7 do mês foi esta a primeira vez.
João Grilo tinha costume pra toda parte que ia era alegre e satisfeito no convívio da alegria, João Grilo fazia graça que todo mundo sorria.
Num dia de sexta-feira as 5 horas da tarde João Grilo disse:
_ Hoje a noite eu assombro aquele padre se ele não me perdoa na igreja há novidade.
Pegou uma lagartixa, amarrou pelo gogó, botou-a numa caixinha, no bolso do paletó, foi confessar-se João Grilo com a paciência de Jó.
As 7 horas da noite foi ao confessionário fez logo o pelo sinal posto aos pés do vigário o padre disse:
_ acuse-se...
João lhe disse:
_ é necessário?
E continuou:
_Eu sou aquele menino da garapa e do coité.
O padre disse:
_ levante-se que já sei você que é.
João tirou a lagartixa, soltou junto do pé do vigário.
A lagartixa subiu por debaixo da batina entrou na pena da calça tornou-se feia a buzina, o padre meteu os pés arrebentou a cortina. Jogou a batina fora naquela grande fadiga, a lagartixa cascuda arranhando na barriga, João Grilo de lá gritava:
_ seu padre Deus lhe castiga.
O padre impaciente naquele turututu, saltava pra todo lado que parecia um timbu, terminou tirando as calças ficando o esqueleto nu.
João disse:
_ Padre é homem, pensei que fosse mulher, anda vestido de saia não casa por não ter fé, isso é que ser caviloso, cara de mata bebê.
O padre disse:
_ João Grilo vai-te daqui infeliz.
E Joâo Grilo bravo respondia:
_ é assim que ele me paga o benefício que eu fiz.
João Grilo foi embora, o padre ficou zangado e João disse:
_ Ora cêbo, eu não aliso croado, vou vingar-me de uma raiva que tive no mês passado.

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Baseado da Literatura de Cordel:
As Proêzas de João Grilo
Autor: João Ferreira de Lima
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